sexta-feira, 18 de março de 2011

Correio Braziliense faz matéria sobre Chaves e Chapolin

Há algo de mágico nas reprises de tevê: programas que fizeram a cabeça de gerações inteiras retornam da maneira como chegaram à telinha e, mesmo aninhados entre novidades fresquinhas, não parecem desgastados ou datados. As falas são repetidas quase que inconscientemente pelos espectadores, e imagens e sons, com um quê de elegância que inexiste na transmissão em alta definição, aquecem e confortam a memória de uns e atiçam a curiosidade de outros.

Os números de audiência confirmam a sobrevida das reexibições: nos primeiros meses de 2011, Chaves, Chapolin Colorado e O pica-pau conquistaram o segundo lugar nas pesquisas do Ibope em várias oportunidades, deixando SBT e Record atrás apenas da Rede Globo. Na falta de uma grade de programação que se apoie em novidades, os dois canais confiam em seriados envelhecidos e simpáticos. A TV Cultura também apostou na fórmula: resgatou O mundo de Beakman, ícone dos anos 1990, no início do ano.

Saudosismo jovem
Membro do Fórum Chaves e do Fã-Clube Chespirito (apelido do criador dos personagens, Roberto Gómez Bolaños), Eduardo Gomes, 15 anos, acompanha as séries desde os quatro, quando aproveitava a hora do almoço para se sentar em frente à tevê. O hábito não foi esquecido. “Acho que esse sucesso se deve às piadas. Simplicidade em tudo. Às vezes, nem são tão elaboradas. Faz muito tempo que passa e ainda continuo rindo com esse estilo de humor”, conta o estudante, atualmente na oitava série do ensino fundamental.

Caçula de três irmãos — Jonathan, 21, e Cláudia, 38, os mais velhos —, o adolescente, de tanto ver os mesmos episódios, adaptou elementos da ficção para o cotidiano. “Quando era criança e cometia alguma besteira, fazia algo de errado, eu sempre dizia ‘foi sem querer querendo’, que nem o Chaves. E quando meu irmão me batia, eu dizia ‘olha ele, olha ele’ (frase habitual do personagem Nhonho)”, revela o morador de Taguatinga, que acha um barato a convivência com outros fanáticos por meio da internet. “Esse espaço é perfeito. Lá a gente compartilha imagens, discussões, multimídia, é muito bom. A gente conhece pessoas do Brasil todo que têm os mesmos gostos que a gente”, explica.

Outro adepto das redes sociais, Gustavo Cunha, 16, mora em Ceilândia e, apesar da proximidade com a vizinha Taguatinga, conheceu Eduardo no fórum. Ele é outro que começou cedo. Influenciado pelo irmão mais velho, Daniel, 26, diverte-se com a astúcia de Chapolin e as desculpas esfarrapadas de Chaves desde muito pequeno. “Todos os parentes gostam das séries”, confirma o irmão do meio de Daniel e Larissa, 14. Para ele, as gags continuam infalíveis. “É uma série que não precisa usar palavras fortes. Faz graça com o simples. Precisa de pouco para fazer rir. Não como o humor de hoje, que é mais apelativo e às vezes usa palavrões”, acredita o aluno do último ano do ensino médio. Seus personagens preferidos, Chapolin e Seu Madruga, o tornam um fã incondicional. “O Chapolin se caracteriza pela aleatoriedade de histórias. E o Seu Madruga, bem… ele é, vamos dizer, o mais legal de todos, o cara que tenta ajudar os outros. É uma graça”, conta.

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Gustavo, 16 anos, diverte-se com a astúcia de Chapolin e as desculpas esfarrapadas de Chaves

Status de clássicos
Paulo Gustavo Pereira, autor dos livros Almanaque dos seriados (editora Ediouro) e Animaq – Almanaque dos desenhos animados (Matrix), observa que os programas apresentam um tipo de humor peculiar, “que está nas situações e não no texto”. “É ingênuo a ponto de não ter época. Chaves e Chapolin têm um humor bem ao estilo do brasileiro, como o dos Trapalhões. É o que os americanos batizaram de comédia física”, argumenta Pereira, 52 anos, editor da revista Sci-fi News, publicação mensal voltada a seriados, livros e filmes de ficção científica. “Tenho uma tese de que nos anos 1980, a década que antecede a internet, as pessoas ficavam mais grudadas a essa parte da cultura pop, porque não existia outro lugar para divulgar. Hoje você coloca Chaves e O pica-pau nas buscas virtuais e encontra milhares de sites”, completa.

As coletâneas em DVD dos três programas — que foram lançadas sem a dublagem que fez a fama dos personagens — não diminuíram o número de televisores ligados. “A popularização desses seriados ficou marcada pela repetição no canal aberto”, destaca.

Público cativo
O pica-pau foi preterido pela Record durante alguns meses, mas voltou no começo de março com registro expressivo: segundo informa o portal NaTelinha, o desenho registrou média de 10 pontos já em sua primeira noite, no último dia 2. O SBT perdeu a exclusividade de Chaves e Chapolin para o canal fechado Cartoon Network em novembro do ano passado. A atenção do público, porém, não diminuiu: como divulga o Ibope, a média em janeiro variou de 7 a 9 pontos.

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