segunda-feira, 20 de junho de 2011

Chaves completa 40 anos da sua primeira exibição

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"Foi sem querer querendo", "Ninguém tem paciência comigo", "Tá bom, mas não se irrite", são frases que cotidianamente se usam e que passaram de geração em geração, graças ao Chaves, personagem que completa nesta segunda-feira 40 anos de divertimento a milhões de pessoas no mundo inteiro.

No entanto, e ainda que a maioria do público não saiba, o menino pobre, com calças curtas e rasgadas, sapatos velhos e gorro muito peculiar, nasceu da imaginação de Roberto Gómez Bolaños, melhor conhecido como Chespirito, o que não se sabia é que o Chaves do oito surgiu como emergente, pois foi uma solução a um problema que se apresentou ao autor e que devia resolver de imediato, assim explicou Roberto Gómez Fernández, filho de Chespirito, que viveu na própria carne esse processo criativo.

"O nascimento do Chaves é curioso, é mais, diria que foi por casualidade. Em 1971, meu pai tinha o programa Chespirito e ali havia um esquete, Los Chifladitos, que eram Chaparrón Bonaparte (Chespirito) e Lucas Tañeda, que foram dois personagens fixos, junto com o Dr. Chapatin".

"Lucas Tañeda era interpretado por Rubén Aguirre, a quem fizeram uma oferta de trabalho muito boa no canal concorrente, o 2, Chespirito era do 8. Ofereceram-lhe um programa de concurso que se chamava O Clube do Chori (assim apelidavam Aguirre), e meu pai lhe disse que aproveitara a oportunidade", recordou.

A situação era urgente, tinha-se que substituir o ator e Bolaños considerou que nada poderia fazer, assim usou um esquete um tanto esquecido, que envolvia um vendedor de balões que odiava os pequenos, e umas crianças interpretadas por adultos.

"Isto era enquanto encontrava como substituir esse vazio, foi de alívio. Quando vê a aceitação e descobre que tem elementos de comédia muito atrativos, volta a escrevê-lo, porém com mais forma. Ao princípio não tinha nem nomes, não exista a Chiquinha (Maria Antonieta de Las Nieves), nem Seu madruga (Ramón Valdés), nem o Chaves (Chespirito); no entanto, a chave foi colocá-los em uma vizinhança onde havia um potencial maior e pouco a pouco o armou", relatou.

"Se não tivessem feito essa oferta a Rubén Aguirre, seguramente não existira o Chaves", disse.

Vestindo o Chaves
Um ano antes, a família de Chespirito ajudou-lhe a dar forma a outro personagem inesquecível, o Chapolin, e nesta ocasião também participaram, ainda que os elementos para o vestuário do Chaves foram basicamente o disponível pelo Canal 8.

"Meu papai se emocionava muito ao ver-se com sardas ou sem elas. A mim me dava muita ternura vê-lo vestido de menino", comentou Marcela Gómez Fernández.

"Foi uma experiência familiar ver minha mãe rasgando as calças e passando a máquina para fazer os remendos, ou fazendo o buraco na camiseta; no fim toda a criação do vestuário do Chaves era algo familiar", continuou sua filha.

O aspecto físico já estava coberto, porém faltava a parte emocional do personagem. Para ele, Gómez Bolaños lançou mão de um dos dons que havia explorado durante toda a sua carreira criativa: a observação.

Os primeiros que passaram pela lupa foram seus próprios filhos, e deles sacou diversas peculiaridades para pôr vida ao Chaves.

"Sim, há muitos gestos que tínhamos de crianças e que meu pai adotou para o Chaves, os saltinhos quando diz "vamos... e vamos jogar, e fazer isso e záz", são de minha irmã Tere, que era muito inquieta", analisou a presidente da Fundação Chespirito IAP.

"Minha, que também é característica de meu pai, é esse jeito de timidez; o "ninguém tem paciência comigo" ele tirou de mim e também é parte dele. As reações de cara escondida são minhas", recordou sua filha.

"O que meu pai tratou de encontrar foram valores universais infantis, com personagens que puderam ter grandes contradições, elementos opostos, assim que surge a comédia. Por exemplo, se tens um alto e um baixinho, um gordo e um magro, um inteligente e um tonto, aparece a piada e isso ele sabia perfeitamente", opinou Gómez Fernández, agora alto executivo da Televisa.

Com cautela
O que para Chespirito começou como uma casualidade, converteu-se no êxito de sua vida, assim que no ano seguinte, Chaves deixou de ser um esquete para converter-se em uma exibição semanal de meia hora com personalidade própria.

O Chaves do Oito converteu-se no cartão de visitas quanto a exibições mexicanas na América Latina, pois já se via em todo o continente. Chegando a mais de 350 milhões de pessoas semanalmente e se falarmos de ibope, em 1975, registrou números entre 55 e 60 pontos.

Tanto foi o êxisto deste programa mexicano que chegou a ser dublado em 50 idiomas e alcançou a países tão distantes como China, Japão, Coréia do Sul, Tailãndia, Marrocos e Índia. Atualmente é exibido em pelo menos 20 países, incluindo Itália, Rússia e Angola.

Evidentemente o êxito se deu desde o nascimento deste personagem, no entanto, ainda que o Chaves e o elenco que pertencia à vila encheram dois vezes em um dia enormes lugares como o Luna Park na Argentina (capacidade de 23 mil pessoas) ou o Estádio de Santiago do Chile (80 mil espectadores), Roberto Gómez Bolaños, criador deste personagem, seguiu sendo tão simples como sempre.

"Afortunadamente meu pai começou a fazer o Chaves quando tinha 41 anos, quer dizer, bem maduro, isso lhe ajudou a assimilar o êxito que alcançou e que todavia tem, a idade o ajudou a ter os pés bem postos sobre a terra", explicou seu filho.

"Sempre colocou uma linha muito clara entre o que é seu trabalho e sua vida pessoal, esse foi outro elemento que ajudou no momento de mais êxito do Chaves. Uma coisa é o efeito que tem na televisão e outra o que passa em sua casa", comentou Gómez Fernández.

Um boom surpreendente
Este emblemático personagem recebeu seu nome do canal em que viu sua origem, Canal 8, ao menos assim comentou seu filho, ainda que na trama se explicou que viva no apartamento 8 da vila, casa que nunca se viu e que o barril, onde costumava se meter, era somente um esconderijo.

O elenco desta série esteve composto de início pelo próprio Chespirito, Ramón Valdés (Seu Madruga) e Maria Antonieta de las Nieves (Chiquinha e depois entraram mais personagens, como Florinda Meza (Dona Florinda e Pópis), Rubén Aguirre (Professor Girafáles), Carlos Villagrán (Quico), Edgar Vivar (Senhor Barriga e Nhonho), Angelins Fernández (Dona Clotilde) e na última etapa, Raul Padilla (Jaiminho, o carteiro), entre outros.

"Este projeto me traz muita nostalgia e coisas boas, ao final, se vê em retrospectiva e vejo como foi bom, são muito mais recordações felizes, ter conhecido tanta gente, viajado a tantos lugares, e hoje continua sendo o programa que segue transmitindo-se ininterruptamente em mais de 30 países, é um luxo que nem todos têm a oportunidade de viver", comentou Edgar Vivar.

"Trabalhar com Chespirito foi mera casualidade, um caça-talentos me convidou para atuar e me apresentou a Chespirito. Para mim foi algo totalmente não planejado, gostava de ver teatro e cinema, porém nunca pensei estar neste projeto que depois de 40 anos segue vigente. Teve muita ressonância, tanto que até a BBC de Londres veio me entrevistar a respeito", disse o médico na vida real.

O boom do Chaves foi tal que começaram a circular centenas de objetos com a imagem dos personagens e em 1974, justo o sábado 30 de maio, saiu a história em quadrinhos que nessa ocasião custava dois pesos e foi vendida em toda a República Mexicana e Guatemala. Meses depois a distribuição se estendeu a toda a América Latina.

A última transmissão de meia hora do Chaves se registrou em 1º de janeiro de 1980; no entanto, como esquete seguiu até 12 de junho de 1992, ainda que somente era o Chaves, isso sem contar com as repetições que desde então aparecem em diversos países do mundo.

A popularidade do programa segue fomentando-se nas novas gerações através da série animada que começou em 22 de outubro de 2006, primeiro fazendo uso de episódios clássicos da série passados a formato de desenho e agora que já chegaram ao capítulo 100 com argumentos do próprio Roberto Gómez Bolaños.

"Em 2 de junho deste ano foi transmitido o 100º capítulo, é um grande feito do Grupo Televisa e Chespirito, por que inicialmente se pensou em fazer 13 capítulos e se funcionava, quiçá outro tanto e chegar ao capítulo 100, ter o rating mais alto que todo o canal 7 é algo bastante bom", comentou Gómez Fernández.

"De pronto já estamos preparando a quinta temporada e é resultado do êxito que está tendo esta tradução da série original à animada", adiantou.

Atualmente, aos seus 82 anos de idade, o criador do Chaves vive a maior parte do tempo em Cancún e, desde ali, não para de escrever e ainda que consciente da proximidade do 40º aniversário do menino da vila, não planeja festejar de nenhum modo.

"Procura não ter nenhum tipo de celebração de nada, qualquer reunião que requeira mais de seis pessoas, já que não gosta disso, é de pequenos grupos e as festas definitivamente não lhe encantam", descreveu seu filho.

"Segue escrevendo seus ensaios sobre o riso e uma espécie de história mundial, combinação de profundidade e comédia, além de um livro sobre o futebol e teatro que converte em cinema", concluiu Gómez Fernández.

Outro êxito
Depois de um grande trabalho de convencimento, Roberto Gómez Bolaños por fim aceitou usar a rede social Twitter e em semanas já reuniu mais de 660 mil seguidores nos mais de cem tweets que enviou, sempre mostra sua filosofia de vida, por exemplo:

O verdadeiro artista não faz obras para o público. Prefere fazer público para suas obras.

Olá. Sou Chespirito, recordando que, para sobreviver, o ser humano necessista respirar, tomar água, comer... e divertir-se!

James: não conheço nenhuma fórmula do sucesso. Porém conheço a melhor fórmula do fracasso: tratar de agradar a todo mundo.

Devo ser mais tarado que fascista. Perdão. Eu só quero que nos permitam andar livremente em nossa casa própria.

Sou Chespirito. O riso é uma expressão do triunfo do cérebro. Se você ri por uma piada é por que a entendeu.


Conheça Chespirito
. Nome: Roberto Gómez Bolaños
. Nasceu em 21 de fevereiro de 1929, tem 82 anos.
. Em sua adolescência, dedicou-se ao boxe e futebol de maneira amadora.
. É engenheiro elétrico e mecânico de profissão, porém nunca exerceu, pois suas inquietudes artísticas pesaram mais.
. Na metade da década de 50 do século passado, Chespirito teve seu primeiro trabalho criativo como roteirista de rádio e televisão, tendo a seu cargo programas como Cómicos y Canciones e El Estudio de Pedro Vargas.
. Em 1970, criou o Chapolin, um super-herói cuja característica principal era a honestidade e suas anteninhas de vinil, e em 1971, Chaves, um menino órfão que vivia em uma vila e que se escondia em um barril de cerveja, para chorar ou quanto estava enojado, personagens que o catapultaram ao êxito e o coroaram como um dos ídolos da América Latina.
. Escreveu o roteiro e também atuou em El Chanfle (1978)
. Em 1992 estreou a obra de teatro 11 y 12, que ficou emc artaz por mais de dez ano.
. Em 2000, seus personagens foram para bilhetes de loteria.
. Em 2006 apresentou o livro Sin Querer Queriendo, onde conta suas memórias, e estreia a série animada do Chaves.

Notas
. O Chaves foi visto, aproximadamente, por 350 milhões de pessoas a cada semana.
. Quando a Pópis, interpretada por Florinda Meza, surgiu, foi feita com voz fanha. Depois de alguns dias, um senhor disse a Chespirito que jamais voltaria a ver seu programa, por que seu filho tinha esse problema e as crianças zombavam dele na escola. O autor decidiu tirar o personagem e um ano depois, voltou com voz normal.
. Pelé chamou Roberto Gómez Bolaños por telefone para fazer um filme do Chaves, porém Roberto não quis levar o personagem ao cinema.
. Durante o programa, os atores nunca usaram ponto.
. A primeira história em quadrinhos do Chaves foi impressa no sábado, 30 de maio de 1974, no México. Era semanal e custava dois pesos mexicanos. Eram vendidas no México e Guatemala.
. Essas historinhas, primeiro foram escritas por Chespirito e depois por seu irmão, Horácio Gómez.
. O personagem Nhonho foi criado pelo ator Edgar Vivar.

Um comentário:

  1. Linda homenagem ao querido Chespirito. Parabéns. Tb escrevi um post homenageando nosso "Chavinho". Passa lá e comenta tb. Isso isso isso. Bjs

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